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Enrico NazaréAutor da publicação: Enrico Nazaré

Vamos então perceber que mundo é este, será legal, será ilegal, mas quem paga a quem ganha, como se perde? É isso que vamos saber de hoje em diante numa rubrica dedicada a este assunto. Vamos aprender muito e o conhecimento é uma arma contra burlas.

Vamos começar pelo princípio, do zero, para que estejamos todos alinhados com a realidade, com os conceitos e com as terminologias.

Apostas desportivas

  • O que são?
  • Como apostar?
  • Mercados de Apostas Desportivas
  • Tipo de Apostas Desportivas
  • Decidir onde apostar
  • Como Apostar em Portugal?
  • Legalização das Apostas Desportivas em Portugal
  • Onde Fazer Apostas Desportivas em Portugal
  • Outros Modos Legais de Apostar em Portugal

Saber Apostar

O que são as apostas desportivas?

São uma forma de jogar em que se coloca dinheiro, a aposta, na predição de um resultado de um evento desportivo. O objetivo das apostas desportivas é ganhar dinheiro. Há quem faça apostas numa base profissional, ou seja, apenas vive destas; e há quem aposte de modo recreativo, apenas para passar o tempo e conseguir algum dinheiro extra é bónus.

Como Apostar?

As apostas são feitas em mercados desportivos, ou seja, existem casas de apostas que dão um valor à probabilidade de um resultado num evento acontecer; a isso chama-se odd. Por norma, os mercados têm duas opções de escolha, havendo outros mercados com mais opções. No final do evento, ganha a aposta, ou perde, consoante o resultado final.

Os eventos passíveis de ter apostas desportivas são todos aqueles que as casas de apostas considerarem válidos para tal. Vai do futebol ao ténis, basquetebol, entretenimento, finanças, corridas de cavalos, etc. As apostas podem ser colocadas antes ou durante os eventos, dependendo do tipo de mercado.

São as próprias casas de aposta que, através de algoritmos e historial, que prevêem qual a probabilidade que atribuem a um determinado mercado de um evento desportivo.

Mercados de Apostas Desportivas

São várias as apostas que se podem fazer, às várias apostas existentes num evento, damos o nome de mercados. Assim, consoante o tipo de evento existem vários mercados, sendo os principais:

  • Resultado Final – ou seja equipa que vencerá ou se empate, ou cavalo a vencer ou jogador a vencer.
  • Resultado ao Intervalo – no caso de um evento com intervalo, quem vence ou empata.
  • Resultado Correto – qual o resultado final em termos de golos ou pontos.
  • Total de Golos – se marca mais ou menos golos (equipa), ou se o total de golos do encontro é superior ou abaixo de determinado número.
  • Total de Pontos – se marca mais ou menos pontos (equipa), ou se o total de pontos do encontro é superior ou abaixo de determinado número.
  • Handicap Asiático – é dado uma desvantagem ou vantagem de pontos, golos, às equipas ou jogadores de modo a equilibrar o valor das odds.

Tipo de Apostas Desportivas

Além dos vários mercados de apostas desportivas, também há outras formas de poder apostar. Fazer uma seleção de um mercado é considerado uma aposta simples, mas se pudermos melhorar o valor da odd, melhor.

Isso é possível através da conjugação de vários mercados de apostas; o que se traduz em apostas múltiplas, podemos assim conjugar vários eventos numa só aposta, desde dois mercados até 10 mercados (dependerá das casas de apostas).

Decidir onde apostar

Atualmente apostar é muito simples. Não é necessário recorrermos a um local físico para colocar a aposta. Podemos estar no conforto da nossa casa, ou mesmo na rua, na fila para pagar as compras. É muito fácil devido às novas tecnologias.

O conceito passa pelas apostas desportivas online, feitas através de casas de apostas online que possuem licenciamento para tal. Assim, basta uma ligação à Internet, um dispositivo (computador ou smartphone) e estamos prontos a apostar!

Como Apostar em Portugal?

Desde que me lembro, sempre foi possível colocar apostas desportivas em Portugal. Desde o antigo “Totobola” dos Jogos Santa Casa, aos sites online (casas de apostas), mas que não eram legalizados em Portugal.

No entanto, no fim de 2014, a atividade das apostas online em portugal foi suspensa, tendo ficado apenas o totobola como alternativa. As empresas que operavam em Portugal tiveram que suspender a sua atividade de apostas desportivas online até surgir nova legislação do jogo online. Entretanto, essa legislação já foi publicada (ver abaixo) e os portugueses já podem apostar.

Assim, em Portugal podemos apostar:

  • Postos de Venda dos Jogos Santa Casa (totobola e apostas desportivas)
  • Sites Online (casas de apostas legalizadas)
  • Sites Online Intermediários (método online que permite apostar nas casas de apostas que deixaram de operar em Portugal)

Legalização das Apostas Desportivas em Portugal

Desde que as apostas desportivas online foram suspensas em Portugal que houve a necessidade de criação de uma legislação de modo a aprovar o jogo online. A entidade responsável pela criação da legislação do jogo online e respetiva emissão de licenças é a Serviços de Regulação e Inspeção de Jogos e Turismo de Portugal.

A atividade foi suspensa no final de 2014, altura em que as grandes casas de apostas online foram obrigadas a deixar de operar em Portugal. Depois, durante o ano de 2015 começou a ser criada a legislação do jogo online, mas antes disso os Jogos Santa Casa licenciaram um novo jogo, o das apostas desportivas; que ficou acessível apenas em alguns pontos de venda.

Quanto à legislação do jogo online, só após diversas reuniões se conseguiu um formato e apenas em outubro de 2015 é que a legislação do jogo online foi concluída. Esperava-se que até fim do ano de 2015 começassem as negociações com as entidades que pretendessem operar legalmente em Portugal.

Infelizmente apenas em abril/maio de 2016 é que foi emitida a primeira licença de apostas online, a BetClic.Pt, em julho de 2016 foi a vez da Bet.Pt obter a licença. Daí para cá ainda não surgiram mais casas de apostas online, havendo rumores de algumas interessadas.

Entretanto, foram licenciados ainda casinos online (BetClic Casino e o Casino Estoril Online) e o regresso do poker a Portugal, através da Pokerstars.

Onde fazer apostas desportivas em Portugal

Para poder apostar legalmente e sem problemas em Portugal deve dirigir-se:

  • Pontos de Venda dos Jogos Santa Casa
  • Casa de Apostas Online 001 – BetClic
  • Casa de Apostas Online 002 – Bet

Outros Modos de Apostar em Portugal

Depois de as apostas desportivas online terem sido suspensas em Portugal, instalou-se o caos entre os apostadores. Pois deixaram de poder aceder às suas casas de apostas, tendo inclusive muitos deixado de apostar. Ainda de referir que muitos apostadores usaram as apostas online como modo de vida, eram os chamados apostadores profissionais!

Assim, durante esse tempo em que não surgia a legislação do jogo online, muitos viraram-se para outros modos de apostar legalmente. Assim foram vários os modos legais que encontraram para contornar a legislação portuguesa.

Saber Apostar

Saber apostar não é chegar, colocar a aposta e está feito. Quer dizer, para alguns apostadores até é; mas não deveria ser! Para apostar corretamente e saber o que está a apostar há que seguir um conjunto de regras. Sendo a principal a gestão de banca, além de algumas dicas sobre apostas desportivas.

Gestão de Banca

A gestão de banca é a primeira regra que deve ser seguida aquando da colocação de uma aposta desportiva. Pois tem por base o nunca colocar em risco dinheiro que lhe possa fazer falta para o dia-a-dia.

É aconselhável definir um orçamento para as apostas desportivas, nomeadamente, dinheiro que possa dispensar do seu dia a dia. Depois, aquando da colocação dos montantes, nunca coloque numa aposta X, noutra Y e na seguinte Z. Ou seja, não convém variar o valor da aposta por mais certezas que tenha nela, ainda que acredite que seja uma “vitória garantida”.

No mundo do jogo online não existem “vitórias garantidas”. Assim, ao efetuar uma boa gestão de banca, colocando em risco apenas uma percentagem do montante total, nunca se arriscará a perder todo o seu dinheiro disponível para as apostas desportivas. Normalmente os apostadores elegem 5% como o valor a apostar.

Esta é a estratégia que mais sucesso tem nas apostas desportivas!

Dicas apostas desportivas

1 – Não coloque em risco o que não pode perder.

É principal dica que lhe posso dar, e vem no seguimento da gestão de banca. Pois os apostadores têm sequências de ganhos, mas também de perdas, e assim não se deve colocar em risco dinheiro que não se pode perder!

2 – Não tente aplicar métodos XPTO

Lá por uma determinada estratégia ou método de aposta funcionar bem com uma pessoa, tal não significa que consigo também corra bem. A não ser que o seu estudo lhe deu indicações de que tal poderá resultar.

3 – Aposte com base na inteligência

No seguimento da dica anterior, aconselho a fazer sempre um estudo prévio antes de colocar as suas apostar. Deve ainda apostar apenas no que conhece e nunca num mercado completamente desconhecido.

Por isso, se gosta e domina o tema do futebol, tem um conhecimento e acesso a informações, notícias, estatísticas sobre esse tema, então opte por estudar bem os eventos e mercados para colocar as apostas.

Assim, a probabilidade de acertar na sua escolha é maior do que se optar por colocar apostas em eventos e mercados desconhecidos.

4 – Cuidado com “tips de apostas”

Há na Internet vários serviços de venda de tips de apostas, muitas apelidadas de 100% seguras. Tenha atenção que podem ser apenas esquemas para ganhar dinheiro. Há muitos casos de fraude.

Se existissem apenas apostas 100% seguras, então o mercado das apostas desportivas estaria esgotado! O meu conselho é não pagar por este tipo de apostas, mas sim dedicar e pagar por softwares que permitam uma análise rápida a estatísticas.

5 – Divirta-se

O meu último conselho para quem está a começar as apostas desportivas é DIVIRTA-SE! Pois quanto mais levar as apostas a sério, menos conseguirá aproveitar. Há sim que levar as apostas a sério no que toca ao estudo, mas também entender que elas são um passatempo.

Em conclusão…

Estes são os princípios basilares para perceber o mundo legal das apostas online, todas as acções serão sempre da sua inteira responsabilidade e devem, para cumprir o que sugerimos, seguir os vários pontos. Se tiver dúvidas, deixe nos comentários para que possa ser dada uma ajuda explicativa.

Para quem é já “pro” nestas lides, deixamos o desafio de complementar estas dicas.

Este artigo tem mais de um ano e por isso a informação poderá estar desatualizada

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Televisão

Televisão

João Miguel Tavares: “Fizemos uma série sobre o arquétipo do político corrupto português”

Chama-se “Prisão Domiciliária” e é a próxima aposta da Opto, a plataforma de streaming que a SIC lançou no ano passado. A série de oito episódios estreia a 16 de abril e acompanha um político português corrupto, que está preso em casa, com pulseira eletrónica.

Realizada e inicialmente idealizada por Patrícia Sequeira, foi escrita por João Miguel Tavares, Rodrigo Nogueira, Catarina Moura e Tiago Pais. Promete oscilar entre o drama e a comédia (com outros elementos pelo meio), num tom que já conseguimos antever através do trailer divulgado.

O elenco inclui nomes como Marco Delgado, Sandra Faleiro, Afonso Pimentel, Filipe Vargas, Maria João Falcão, Fernando Rodrigues, Carlota Crespo, Carlos Oliveira, Diogo Amaral, Miguel Damião e Valerie Braddell, entre outros.

As gravações aconteceram há pouco tempo, em fevereiro, e a série foi escrita na segunda metade de 2020 — embora a primeira ideia para o projeto tenha surgido em 2013. A NiT entrevistou o jornalista, cronista, comentador e escritor João Miguel Tavares sobre “Prisão Domiciliária”.

O autor, atualmente mais conhecido como comentador político, recusa uma colagem a figuras da vida real, como José Sócrates, mas assume que podem haver aproximações, já que o objetivo também foi espelhar a realidade política em Portugal. Conta-nos como foi um trabalho árduo feito às noites e durante os fins de semana, e admite deixar a porta aberta para potenciais futuros projetos de ficção.

Qual foi a sua reação quando a Patrícia Sequeira lhe sugeriu escrever esta série?
Isso já aconteceu há imenso tempo, não sei se me consigo lembrar, porque foi em 2013 [risos]. Mas a primeira reação foi mais de surpresa, no sentido em que eu nunca tinha feito isto. E eu não conhecia a Patrícia, há esse mérito. Dá-me ideia que ela andava mesmo à procura de alguém fora do mundo tradicional dos argumentistas. E a ideia original era fazer de “Prisão Domiciliária”, que já tinha esse nome, uma série que se passasse num lugar fechado. Ou seja, as personagens nunca saíam daquela casa. Eu achei muita graça ao desafio e era uma série sobre um político corrupto português, por isso ela foi à procura de alguém que escrevesse sobre o tema, um jornalista que acompanhasse e de certa maneira pudesse conhecer os meandros da coisa. E foi assim que ela veio ter até mim. Eu acho que ela nem conhecia bem o meu background, mas a verdade é que comecei na secção de cultura do “Diário de Notícias”. Comecei até como crítico de cinema e a escrever também sobre televisão. Além do facto de ser jornalista e depois destas voltas que a vida deu de ter acabado a escrever uma coluna política, há de facto um interesse meu muito grande tanto pelo cinema como pela ficção televisiva. E as coisas casaram-se. Mas aquilo em 2013 não foi a grande lugar. Nós escrevemos um episódio piloto, já na altura com o Tiago Pais e o Rodrigo Nogueira. Depois, no ano passado, juntou-se a Catarina Moura e fomos nós os quatro a escrever a série.

E como se formou esse painel de argumentistas?
Os convites foram meus. Eu gosto de trabalhar em equipa, sempre gostei, e também sabia qual era o tom que queria para a série. Embora na primeira versão, no primeiro episódio piloto, “Prisão Domiciliária” fosse uma série mais humorística. Com o tempo foi evoluindo para algo que cruza o humor com o drama e até com um bocadinho de suspense. Há ali um ligeiro toque quase de thriller, de whodunnit. E esse cruzamento de elementos fazia com que, como eu nunca tinha feito aquilo, achava útil ter pessoas… Aquele lado de trabalhares em equipa, teres alguém para te dizer se esta fala está boa ou má. E sempre valorizei muito esse brainstorming. Eu tinha trabalhado com o Tiago e o Rodrigo na “Time Out”, sou um dos fundadores da revista e eles fizeram parte da equipa, e mais tarde eu saí, eles ainda continuaram durante mais algum tempo, mas depois cada um de nós foi à sua vida. E a Catarina Moura também vem desses tempos. E a verdade é que a escrita da “Time Out” sempre foi uma tentativa de ter aquele wit, uma espécie de humor inteligente até com um lado de provocação, e esse tom também era algo que queria muito que estivesse presente na série. Portanto, convidei-os, depois mais tarde a Catarina, porque achava que também devia ter ali um toque feminino na escrita. E foi assim que a equipa se formou. Agora, desde 2013 até agora…

Foi um processo demorado.
Sim, até já tinha desistido. Houve um momento em que a série não deu, depois a SIC Radical teve interesse mas por uma razão ou outra, e apareceu a crise, também não avançou. E finalmente, quando eu já dava isto mais ou menos por morto e enterrado, surgiu a Opto pelo caminho. A Patrícia, pelos vistos, nunca tinha desistido da série. E ela apresentou alguns projetos à Opto e de repente a SIC olhou e penso que até foi o Daniel Oliveira a dizer “porque é que a gente não faz isto?” E avançou-se com “Prisão Domiciliária”, que voltou do reino dos mortos e que depois teve de ser escrita com alguma rapidez na segunda metade do ano passado. E tendo em conta que todos nós somos amadores, no sentido em que, não só nunca tínhamos feito isto, como todos nós temos outros trabalhos e somos jornalistas, a série teve muito de ser feita à noite e aos fins de semana. Então convinha sermos mais, para irmos dividindo trabalho, e para aquele bater de bolas e aquele brainstorming. Embora eu tenha acabado por ter um papel de supervisão do guião.

Tirando o tom, que se alterou ligeiramente ao longo do tempo, como disse, a visão inicial para a série mudou muito? Ou não?
Não, não mudou assim tanto, porque as personagens principais estavam mais ou menos definidas à partida. Pode ter entrado uma ou outra, mas pouca coisa, já tínhamos os nomes definidos e um perfil para cada uma delas. Claro que houve ligeiras evoluções, mas não mudou muito. E o centro da série é a mesma coisa: um político corrupto que está preso em casa com pulseira eletrónica e que tenta, enfim, manter a sua vida política, em parte manter a sua influência, alguns dos seus negócios, e tentar escapar a uma acusação da justiça portuguesa. E tentar perceber nesse meio quais são as motivações.

Pode-se dizer que há pessoas ou acontecimentos da vida real que tenham inspirado esta história? Ou tentaram afastar-se disso propositadamente?
Não houve uma tentativa nem de afastamento nem de demasiada aproximação. Até porque sou eu a escrever, e eu escrevi durante tantos anos tão obsessivamente sobre o José Sócrates, as pessoas apontam e dizem: lá está, é uma série em que é o Sócrates. Mas na verdade, como te estava a contar, a série começou em 2013. O Sócrates foi preso em novembro de 2014, portanto a ideia da série é anterior. E na altura até tinham surgido outras ideias, outras pessoas, o Duarte Lima era uma das que também tinham sido referenciadas. Agora, é evidente para quem acompanha a política portuguesa e o processo Marquês, é verdade que pode olhar para a série e ver de repente uma frase ou uma determinada situação que naturalmente lembra alguma coisa. Mas essa sempre também foi a ideia, de olharmos para a realidade portuguesa e não estarmos a fingir que aquela não é realidade. Há ali um lado de mostrar o arquétipo do político corrupto português. E há aproximações. Agora, eu nunca quis que houvesse uma colagem ao José Sócrates. Porque o Sócrates é uma personagem suficientemente rica em si para precisar de uma série de ficção. O José Sócrates merece um ótimo documentário, se calhar até uma série documental, sobre a vida dele, que é suficientemente rica. E, depois, porque aquilo que mais me motiva na série, e era assim que eu achava que íamos conseguir fazer uma boa série de ficção, era aquilo que são as motivações interiores da personagem. Isso vai muito além dos episódios que encontramos descritos nos jornais.

Que tipo de motivações?
Interessa-me a motivação de alguém: como é que tu fazes aqueles negócios? O que é que acontece no momento em que és apanhado? Como é que fazes para a tua influência e poder que tens não te escapar das mãos? E como é a tua imagem diante da tua família? Qual é o impacto que isto tem na tua família? São este tipo de motivações que mais me interessam para fazer uma série e isso vai muito além de um decalque da realidade, que seria muito pouco interessante. E acabávamos com um senhor grisalho, com um nariz assim abatatado e a imitar o sotaque do Sócrates. Isso para mim não teria nenhuma espécie de interesse. A minha prioridade foi: vamos fazer boa ficção televisiva. Uma coisa que dê às pessoas vontade de ver. E para isso é preciso apaixonarem-se pela série e pela personagem principal. E de facto o político corrupto ou facilitador tem que ser também um sedutor. Sem esse lado, tu não consegues criar uma carreira. Nós às vezes olhamos para um corrupto e achamos “ai que este trafulha”, e pintamo-lo com umas cores como se ele fosse uma encarnação do mal. Ora, é evidente que se alguém for simplesmente um pulha que trai toda a gente e é horrível para todas as pessoas, jamais conseguirá ascender na vida. Portanto, todas estas pessoas têm uma dimensão de sedução, de fascínio e até de preocupação com outras. Em primeiro lugar, muitas vezes com eles próprios, mas também com outros. Não é que sejam insensíveis a tudo aquilo que acontece à sua volta. É este o universo que tentámos explorar.

Houve séries ou filmes que foram referências para criar “Prisão Domiciliária”?
As nossas influências são tudo aquilo que a gente já viu, ouviu ou leu. Também estou a caminho dos 50 anos, já é muita coisa. Obviamente que isso nos marca, que nos influencia. Agora, há também um tom de que gostamos, e acho que é transversal à minha geração e à de toda a gente. Que é olhar para a ficção televisiva, nomeadamente a americana, e sentires que há coisas extraordinárias a aparecer. Hoje em dia até se calhar é um meio mais interessante do que o próprio cinema. E isso vem com uma conjugação de ambição autoral, da parte de quem escreve e realiza, e uma preocupação de chegar a um grande público. As duas coisas não têm de ser incompatíveis, como às vezes parece em Portugal. Tu às vezes só tens produtos de grande público, cujo interesse intelectual e autoral é nulo, ou então gente que tenta fazer um cinema tão autoral e intelectual que depois deixa de fora as outras pessoas. Os dois lados não têm que ser incompatíveis. Foi isso que tentámos fazer. É uma série autoral, no sentido em que as marcas da nossa escrita e personalidade estão na série, mas ao mesmo tempo que seja apelativa. E para o ser tem de ter todos aqueles ingredientes de que estava a falar. Sendo sobre um político corrupto preso, deve ter um lado de suspense, dramático e também de humor. Para encontrar um tom que ao mesmo tempo seja único, porque sinto que isto não existe muito em Portugal. E aquilo que nós tínhamos quando começámos a fazer a série eram duas regras: primeiro, não queríamos que as personagens fossem estúpidas. Não havia tipos burros que só ali estivessem para ser manipulados. Eram para ser personagens consistentes que os atores tivessem gosto em defender. E a outra é que quem visse esta série dissesse: olha, nunca tinha visto uma coisa assim na televisão portuguesa. Isto não se parece com nada do que vi. E foi muito essa a nossa motivação para escrever. Se as pessoas gostarem, sentirem-se entretidas, que há ali um tom autoral e ao mesmo tempo dizerem que nunca tinham visto nada assim na televisão portuguesa, a gente faz a festa e já ganhou o dia.

Quem são as personagens mais relevantes, além do político protagonista da história?
A personagem principal é o Álvaro Vieira Branco. Depois ele tem uma mulher, que é a Raquel (interpretada pela Sandra Faleiro), e têm um filho e uma filha, e há uma mãe, que vai viver lá para casa e que é uma personagem bastante importante (interpretada pela Valerie Braddell). E depois há também dois empregados: um motorista e alguém que é uma espécie de homem de mão de Álvaro Vieira Branco, que é o Zé Mário (interpretado pelo Fernando Rodrigues), que também tem um papel muito importante. Depois há o advogado, o assessor do primeiro-ministro, há jornalistas, amantes e toda uma dinâmica… Já me perguntaram sobre se não são imensas personagens, e tem que haver muita gente a entrar e a sair porque tudo aquilo se passa dentro de uma casa. É preciso criar uma dinâmica suficientemente interessante para aquilo não ser uma série que a gente sentisse que estava ali e que cena após cena tornava-se uma seca. De todo, lutámos muito para fazer uma série divertida. Existem muitas personagens, e, se tivermos feito bem o nosso trabalho, cada personagem está ali para ser bem defendida pelo seu ator ou atriz. Independentemente da dimensão do papel.

O principal arco dramático é o protagonista a tentar manter a sua influência e a forma como lida com as várias personagens que estão à sua volta, é isso?
Sim, por um lado há o impacto todo que uma prisão… porque ele vem da prisão para casa, há o impacto todo que isso causa na sua própria família. E depois há um impacto político. Como é que faz alguém que foi apanhado e que ao mesmo tempo era super influente no governo, no partido do governo, como é que faz para manter o seu poder? Se virmos isto como um tripé, de um lado é a família, do outro a família, e o terceiro será a justiça. O que é que eu posso fazer para impedir que isto vá para a frente? Que essa acusação caia e que ele não seja julgado, não tenha que ir a tribunal, e que consiga recuperar a influência política. Todas estas preocupações atravessam a cabeça do corrupto, ou do suspeito de corrupção português, que foi o que tentámos explorar.

Depois desta experiência, gostaria de escrever mais ficção para a televisão?
Vamos ver. É assim, eu gostei muito disto. Foi duro de escrever, por todas as razões que disse. Era impossível eu sentar-me às nove da manhã a escrever e parar às cinco da tarde. Isto teve que ser feito com grande sacrifício aos fins de semana, também com muita ajuda da família e da minha mulher, que nestas ocasiões teve que andar a aturar a rapaziada toda, ainda por cima eu tenho quatro miúdos. Os miúdos, por acaso, fiquei muito surpreendido com os mais velhos [risos]. Porque sentiram-se muito envolvidos nisto e é a primeira vez que faço alguma coisa na minha vida pela qual eles parecem ter genuíno interesse, é muito engraçado [risos]. Eu posso andar a escrever para o “Público” e fazer o “Governo Sombra”, que eles não querem saber. Mas da série de televisão quiseram saber, teve esse lado prazenteiro para o pai.

Deram sugestões?
Mais do que sugestões, deram muitas opiniões. Se isto estava bem, se estava mal. A minha filha mais velha, que tem 16 anos, a Carolina, leu: olha, acho que isto está mal, aqui está uma gralha, aqui não faz muito sentido, e portanto, sim, acompanhou aquilo de perto. Teve esse lado simpático. E eu gostei de fazer aquilo. Para mim foi mais fácil do que estava à espera. Era uma coisa de que gostava de explorar há muito tempo. Até porque tenho um lado de ficção que nunca explorei muito. Explorei nos livros infantis que escrevi, que evidentemente têm um lado ficcional, e é um lado inventivo de que gosto. E ao mesmo tempo a escrita de argumento é muito enxuta e muito de corta e cola, de tesourar tudo aquilo que está a mais. E essa escrita também tem a ver com a escrita jornalística, curiosamente. Por exemplo, estou até a meio de um empreendimento grande, que é escrever um livro de grande fôlego, que não é ficção, é mais ensaístico, mas escrever um ensaio de 300 páginas é algo para mim muito mais afastado da minha vida do dia a dia do que escrever um argumento. Não tem a ver com o estilo, tem a ver com a mecânica da escrita. É uma mecânica de punchline, que também tem muito a ver com a mecânica da boa crónica. É engraçado: nunca tive writer’s block, nunca senti que houvesse falta de ideias, houve muita discussão entre nós, às vezes em relação ao próprio tom, para onde é que a série deveria ir, mas nunca aconteceu ficar ali com uma espécie de bloqueio. Foi uma coisa prazenteira. Dá é imenso trabalho. Vamos ver, a porta fica aberta, talvez eu tenha vontade de experimentar mais algumas coisas. O meu problema é que eu gosto de tanta coisa e faço tanta coisa em simultâneo. Mas enfim, quando se gosta vamo-nos desenrascando.

Fernando Pessoa

Paro à beira de mim e me debruço.
Abismo. E nesse abismo o Universo
Com seu Tempo e seu Espaço é um astro e nesse
Abismo há outros universos, outras
Formas de Ser com outros Tempos, Espaços
E outras vidas diversas desta vida.
O espírito é antes estrela. O Deus pensado
É um sol. E há mais Deuses, mais espíritos
Doutras maneiras de Realidade.
E eu precipito-me no abismo, e fico
Em mim. E nunca desço. E fecho os olhos
E sonho — e acordo para a Natureza.
Assim eu volto a Mim e à Vida.

Inclino o meu ouvido para mim
E escuto. Um Deus Real e Verdadeiro
Criou nosso universo em sua dupla
Unidade divina de corpo e alma. E esse
Deus, com seu Universo real e eterno,
É um átomo num mundo de universos.
Inextricavelmente
Há outras realidades.

É saber isto que me faz alheio
À vida e pálido entre a humanidade.

Deus a si próprio não se compreende.
Sua origem é mais divina que ele,
E ele não tem origem que as palavras
Possam fazer pensar.

Fecha as portas da Alma! Faze ruído!
Agita, grito, o teu externo Ser,
Encobre-me a Presença do Mistério!

Pode ser que mundo possuamos
Um paraíso eterno, e vida divina
Seja (ó relâmpago do pensamento!)
A realidade! A ilusão talvez
Dure pra sempre. Quem criou um átomo
Ainda por criar
Pode criar uma ilusão eterna.
Altitude! Altitude! Não respiro!
Passei além da Realidade, ergui-me
Acima da Verdade. Deus. O Ser
O abstracto ser em sua abstracta ideia
Esse próprio, o mesmo sonho divino (?(
Apagou-se e eu fiquei na noite eterna
Eu e o Mistério face a face.

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