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Apostas esportivas imposto de renda

Enrico NazaréAutor da publicação: Enrico Nazaré

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  • As origens da bet365 começam com Peter Coates, um nativo de Stoke-on-Trent e filho de um mineiro de carvão. Com o dinheiro que ganhou com um negócio de venda de comida em estádios de todo o país, ele comprou três casas de apostas locais
  • Pelo segundo ano consecutivo, a família Coates é a maior contribuinte do Reino Unido, de acordo com a lista anual de impostos do Sunday Times, publicada no final de janeiro

(David Segal/The New York Times News Service) – Em nenhum momento durante o jogo de futebol entre o Stoke City e o time visitante Watford, alguém disse: “O jogo desta noite é oferecido pela bet365”, uma das maiores empresas de apostas on-line do mundo. Ninguém precisava. Era bastante óbvio.

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O jogo aconteceu no bet365 Stadium, onde “bet365” foi estampado em uma enorme fileira de assentos vermelhos, que estavam vazios por causa da pandemia. Anúncios em banner de LED com o logotipo verde e amarelo da bet365 piscavam e rolavam pelo perímetro do campo durante o jogo. E todos os jogadores do Stoke tinham a insígnia de bet365 estampada na frente de sua camisa. A empresa não patrocina apenas o time. A empresa é proprietária.

“Estamos vacilando um pouco”, disse Peter Coates, presidente da bet365 e do Stoke City, em uma entrevista por telefone algumas horas antes do jogo de janeiro. “Precisamos de uma vitória esta noite.”

Eles não conseguiram. O Watford venceu por 2-1 após mais de 90 minutos de jogo esporadicamente emocionante.

A bet365 sem dúvida teve uma noite muito melhor.

A empresa é privada e não informa seus lucros trimestrais. Mas os rivais de capital aberto anunciaram resultados e sugerem fortemente que os operadores de apostas on-line são um dos grandes vencedores na economia pandêmica. A gigante Flutter Entertainment anunciou em novembro que a receita das apostas esportivas aumentou mais de 30% no verão passado em relação ao verão anterior [no Hemisfério Norte]. O número médio diário de jogadores em todas as redes da empresa aumentou 40%.

Numa Inglaterra apaixonada por futebol, o jogo é uma das poucas emoções legalmente disponíveis para uma nação que está entediada, isolada e presa em casa. É a resposta britânica para o day trading no mercado de ações dos EUA, que cresceu durante a pandemia e deve crescer novamente com a chegada dos cheques da nova rodada de estímulos. Com uma eficiência que parece sombria e arbitrária, a covid-19 abateu milhões, mas deixou outros ilesos e, em alguns casos, mais ricos do que nunca.

O último grupo inclui executivos de um seleto grupo de empresas em uma variedade de áreas, incluindo e-commerce, como a Amazon, e entretenimento, como a Netflix. O jogo tem uma distinção singular nesta classe rarefeita. Grande parte de seus ganhos vêm diretamente de pessoas em dificuldades financeiras – e grande parte dessa pressão foi causada pelo jogo.

A Gordon Moody Association, uma instituição de caridade britânica que oferece tratamento residencial para viciados em jogos de azar, disse durante o verão que o número de ligações de apostadores que disseram se sentir suicidas recentemente quadruplicou. Um relatório da House of Lords descobriu no ano passado que 60% dos lucros da indústria vieram de 5% de seus clientes – ou seja, jogadores problemáticos ou em risco de desenvolver um problema.

O relato de um viciado

Pessoas como Lewis, um rapaz de 25 anos de Hampshire que pediu anonimato porque poucas pessoas sabem sobre a compulsão que ele ainda luta para controlar. Ele ganhou cerca de US$ 77.000 aos 16 anos com uma conta de apostas on-line e perseguiu o pico daquele sucesso original por anos. Desde 2016, disse ele, tem alternado entre a abstinência total e a mania total.

Para ele, a bet365 é o mais traiçoeiro dos muitos sites de apostas on-line, porque supera os restantes no fornecimento ao impulso constante de pessoas que querem apostar, dia e noite, em jogos que acontecem em qualquer parte do mundo.

“Um jogador está desesperado para se distrair e, durante o confinamento, não havia nada para me distrair”, disse ele. “Não posso encontrar amigos em um bar, não posso sair para comer fora. Você está em casa a cada segundo. Você acaba em um ciclo vicioso.”

Um personagem de romance

A indústria de apostas on-line há muito opera sob regras excepcionalmente tolerantes na Grã-Bretanha, muitas delas sistematizadas em 2005, com um conjunto de regulamentos que foi amplamente desenvolvido para lojas de apostas no varejo. Essa foi descrita como uma lei analógica para a era digital e é supervisionada pelo Departamento de Cultura, Mídia e Esporte, também conhecido como “Ministério da Diversão”.

Ao que tudo indica, nenhuma empresa lucrou mais sob este regime mão-leve do que a bet365. É por isso que o negócio é espetacularmente lucrativo.

Em 2019, a empresa informou em um documento anual que a filha de Coates, Denise Coates, a co-CEO, ganhou mais de US$ 420 milhões. Esse montante fez dela a executiva mais bem paga do país e a “mulher mais bem paga do mundo”, de acordo com o The Guardian. Isso é muitas vezes mais do que os CEOs de concorrentes de capital aberto e mais de 12.000 vezes o salário médio em Stoke-on-Trent, a cidade que se encontra em dificuldades, a 140 milhas ao norte de Londres, onde a sede da bet365.

A empresa fracassou no ano passado durante os meses em que os jogos de futebol foram suspensos na Grã-Bretanha, disse Peter Coates. A bet365 confiou em suas ofertas de cassino e encontrou alguns jogos de futebol na Bielo-Rússia e na Austrália. A receita voltou rapidamente quando o futebol foi retomado.

Denise Coates, 53 anos, raramente dá entrevistas e não respondeu às mensagens para esta reportagem. Ela foi descrita como intensamente reservada até mesmo para alguns rivais de longa data. Ela é o tipo de pessoa com quem se poderia encontrar em convenções ou associações.

“Ela é como um personagem saído de um romance de John le Carré, uma pessoa que você sabe que existe, mas que nunca conhece”, disse Ralph Topping, ex-CEO da William Hill, uma das maiores empresas de apostas do país. “Quando eu estava na William Hill, gostaríamos de ter sua opinião sobre assuntos importantes para a indústria. Mas nunca conversei com ela.”

A rainha da econometria

A jornada de Denise Coates para o auge do mercado de apostas começou depois que ela se formou com louvor em econometria pela Universidade de Sheffield e ingressou no negócio de serviços de refeição do seu pai, como contadora. Peter Coates era dono de algumas dezenas de lojas de apostas, essencialmente um negócio paralelo na época.

“Ela disse: ‘pai, essa é a coisa mais chata que já fiz’”, lembra Peter Coates. “Ela disse: ‘Quero administrar essas lojas para você’. E foi brilhante nisso.”

Ela enfeitou as lojas e abriu mais 15. Em 2000, ela adquiriu o domínio bet365 do eBay.

“Ela é muito motivada, sempre gosta de ser melhor do que qualquer outra pessoa”, disse Peter Coates. “Muita organizada, boa com as pessoas. Ela acabou por ser uma estrela.”

Apostas durante todo o jogo

O mundo que o pai atribui a Denise Coates se reflete em um anúncio de televisão da bet365 que foi veiculado antes do jogo Stoke-Watford. Ele apresentava o ator que virou vendedor Ray Winstone, que estava sentado na parte de trás de um sedan de luxo, vestido com um terno escuro, parando o trânsito e exalando facilidade e controle.

“Na bet365 estamos sempre inovando e criando”, disse ele com acentuado sotaque londrino, olhando para a câmera. Com o celular na mão, aparentemente pronto para fazer algumas apostas, ele verificou uma lista dessas inovações, incluindo algo chamado “apostas em jogo”.

As apostas durante o jogo permitem que os clientes apostem ao longo de um evento esportivo, em detalhes que têm pouca relação com o resultado. Quantos escanteios haverá no primeiro tempo de uma partida de futebol? Quantos jogadores serão expulsos? O que acontecerá primeiro durante um incremento de 10 minutos – uma cobrança lateral, uma cobrança de falta, um tiro de meta, outra coisa? Quando esses minutos expiram, o site abre apostas para os próximos 10 minutos.

“É como estar em um cassino”, disse Jake Thomas, um ex-executivo da indústria de jogos de azar que acompanhou o repórter, por telefone, por meio do site durante o jogo Stoke-Watford. “Por que esperar 90 minutos para saber se o seu time vai ganhar? Por que não começar a apostar um pouco na próxima cobrança de escanteio?”

Enquanto Thomas falava e os minutos passavam, as probabilidades de dezenas de apostas eram constantemente reavaliadas. Uma aposta de que o Stoke marcaria nos primeiros 30 minutos pagou 9-1 com pouco mais de 25 minutos de jogo. Um momento depois, como esse resultado parecia um pouco menos provável, a mesma aposta pagou 19-2.

A empresa disse que participa de 100.000 eventos ao longo do ano, em esportes e corridas ao redor do mundo – seja a tradicional corrida de cachorros galgos na Nova Zelândia, passando pelo tênis de mesa feminino na Ucrânia, e chegando ao torneio de golfe em Dubai. Existe até uma seção sobre política (George Clooney está atualmente com 100-1 para ganhar a presidência dos EUA em 2024).

A aposta no mundo virtual

Se nenhum evento ao vivo atrai os apostadores, os eventos virtuais dão um aceno. Essas são simulações geradas por vídeo de partidas de tênis; jogos de futebol, futebol americano, basquete e críquete; e assim por diante. Uma tarde, corridas de bicicleta em um velódromo virtual aconteciam a cada três minutos, cada uma durando cerca de um minuto.

Outros operadores de jogos de azar agora oferecem quase tudo o que pode ser encontrado no site da bet365. Mas os rivais dizem que Denise Coates e sua equipe lideraram o caminho.

“Estávamos sempre olhando para eles para ver o que estavam fazendo e como estavam fazendo”, disse Peter Nolan, ex-diretor de grupo da William Hill. “E na medida do possível, competimos com eles.”

Por causa dessa competição, fãs de 40 anos ou menos cresceram inundados com anúncios de apostas. O subtexto, e às vezes o próprio texto, era que futebol e apostas não andam apenas juntos – eles aprimoram um ao outro.

“Eu confiei nas mensagens que o futebol me enviou”, disse James Grimes, que perdeu US$ 140.000, dois empregos e todos os seus amigos antes de parar de jogar e fundar o Big Step, um grupo anti-jogo. “Um slogan que ouvi muito quando era criança da Sky Bet, uma empresa de apostas on-line, era ‘É mais importante quando há dinheiro nisso’. E eu acreditava nisso.”

A empresa dos lábios apertados

Stoke-on-Trent é bem conhecido pela cerâmica (é onde o reality show “The Great Pottery Throw Down” é filmado) mas hoje, com uma folha de pagamento de mais de 4.000 pessoas, é a bet365 e não a Wedgwood que é a maior empresa empregadora da cidade. Poucos funcionários, mesmo aqueles que são velhos de casa, conheceram Denise Coates. Sua reticência está incorporada na abordagem da empresa à mídia de notícias. Não tem uma assessoria de imprensa e ninguém respondeu às mensagens deixadas com os representantes do atendimento ao cliente, nem mesmo para dizer “Sem comentários”.

Em vez disso, depois de dar uma entrevista improvisada por telefone, Peter Coates ligou para dizer que encaminharia quaisquer perguntas às pessoas relevantes da bet365. Ele acrescentou, com bom humor, que falar com este repórter o colocou em “alguns problemas”.

As origens da bet365 começam com Peter Coates, um nativo de Stoke-on-Trent e filho de um mineiro de carvão. Com o dinheiro que ganhou com um negócio de venda de comida em estádios de todo o país, ele comprou três casas de apostas locais, essencialmente como um favor para o irmão de um empregado. A rede acabaria se expandindo para 35 lojas, estendendo-se de West Midlands a Liverpool.

Duas décadas atrás, depois de se tornar digital por insistência de Denise Coates, a empresa operava em uma cabine portátil perto de uma das casas de apostas. Era uma proposta mais complicada e cara do que a família havia inicialmente imaginado.

“Tivemos que encontrar cerca de 20 milhões de libras”, disse Peter Coates. “No início, perdemos muito dinheiro. Eram tempos preocupantes, mas senti que estávamos acumulando uma base de clientes e, finalmente, ultrapassamos a massa crítica de que você precisa.”

A última vez que a empresa apresentou um relatório financeiro, em dezembro de 2019, ele afirmou que o lucro operacional havia saltado 15% em relação ao ano anterior, para cerca de US$ 1 bilhão. Isso culminou em um período extremamente lucrativo para Denise Coates. A Forbes estimou recentemente seu patrimônio líquido em US$ 6,4 bilhões.

Campeões dos impostos

Pelo segundo ano consecutivo, a família Coates é a maior contribuinte do Reino Unido, de acordo com a lista anual de impostos do Sunday Times, publicada no final de janeiro de 2021. A família pagou o equivalente a US$ 785 milhões aos cofres do estado no ano passado. Denise Coates também criou a Denise Coates Foundation, que se concentra em saúde, pesquisa e caridade e, em sua publicação mais recente, relatou US$ 14 milhões em doações.

Discretamente, ela está comprando centenas de hectares na vizinha Cheshire e construindo o que o Daily Mail chamou de um “palácio de vidro” de US$ 125 milhões, junto com estábulos, uma quadra de tênis e um lago artificial de quase 7.000 metros quadrados.

Em Stoke, Denise Coates é aclamada e praticamente invisível. Ela oferece dinheiro para projetos cívicos, como fez quando a cidade precisava de fundos adicionais para erguer uma estátua para Arnold Bennett, um autor local que morreu há 90 anos. Só não espere que ela apareça na inauguração.

“Muitas pessoas que ganharam dinheiro em Stoke vão embora”, disse Fred Hughes, 80, um policial aposentado que compareceu à cerimônia da estátua de Bennett. “Esta é uma área bastante pobre e está sempre em busca de investimento externo. A família Coates é a exceção.”

Vencedores nem sempre são bem-vindos

O sucesso da bet365 deriva em grande parte da forma como mima os apostadores. Oferece, por exemplo, reembolso a quem apostar em um vencedor em jogo que termina sem gols (empates zero a zero enfurecem os apostadores.) E, em certas circunstâncias, a empresa pagará aos vencedores antes do final do jogo.

Isso não é exatamente altruísmo.

“A lógica do ponto de vista deles é que se você tiver seus ganhos antes do jogo terminar, você pode usar esse dinheiro para apostar novamente”, disse Warwick Bartlett, da Global Betting & Gaming Consultants.

A empresa é muito menos hospitaleira com outro tipo de cliente: vencedores consistentes. Brian Chappell disse que teve um desentendimento com a bet365 alguns anos atrás, depois de ganhar cerca de US$ 4.800 apostando em cavalos. Um pesquisador aposentado da área de saúde, Chappell disse que simplesmente estudou o esporte e entendeu as complexidades da cobertura bem o suficiente para sair na frente nas corridas semanais.

“Então, um sábado, fui fazer uma aposta e o máximo que podia apostar era 1,60 libra [cerca de US$ 2,20]”, disse ele. “Eles não dizem que isso vai acontecer – não há interação alguma. Apenas um dia, sua aposta é restrita.”

Depois de saber que outros encontraram obstáculos semelhantes na bet365 e em outros operadores, Chappell fundou o Justice for Punters – “punter” é uma gíria para apostador – para revidar.

“Eu chamo isso de estratégia de ‘proibição ou falência’”, disse ele, descrevendo o que chama de um modelo de negócios “incrível”: “Se você for bom, será banido. Se você for um inútil, terá um gerente VIP que o manterá jogando.”

O anti-jogo em campo

Os ativistas anti-jogo afirmam que esses estratagemas são apenas parte do problema, especialmente durante a pandemia.

“Os bloqueios aceleraram o crescimento do jogo on-line e aumentaram o uso de produtos mais viciantes”, disse Matt Zarb-Cousin, que dirige a Clean Up Gambling, uma organização sem fins lucrativos. “Isso significa que uma geração inteira está muito mais vulnerável ao vício do jogo”.

Sem novos regulamentos, nunca haverá separação entre futebol e apostas, dizem Zarb-Cousin e outros, porque os dois agora estão essencialmente fundidos. Cerca de 70% das equipes nas duas principais ligas inglesas ganham milhões usando logotipos dessas empresas de em seus uniformes. Mesmo os poucos donos de times de futebol que recusam o dinheiro vinda das apostas, a princípio, acabam pegando apenas por competir.

Forçados a jogar

Mark Palios, dono do Tranmere Rovers em Birkenhead, falou contra os operadores de jogos de azar como uma força maligna. Ele ficou chocado há duas temporadas quando a bet365 acabou com os direitos de transmissão de alguns jogos. A Football Association, que comercializa esses direitos, divide as receitas com os times da liga.

“E a bet365 decidiu que se você queria assistir aos jogos, você precisava ir ao site da empresa e se inscrever para abrir uma conta”, disse Palios.

“A empresa estava alavancando abertamente seu poder de mercado para obrigar as pessoas a jogar. Achei isso obsceno.”

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Apostas esportivas online movimentam R$ 4 bilhões por ano no Brasil

Quatorze anos após a proibição dos bingos, o Brasil deu “uma chance” aos jogos de azar ao legalizar, no fim de 2018, as apostas esportivas online. A lei assinada pelo então presidente Michel Temer, porém, ainda aguarda uma regulamentação. Enquanto isso, o mercado cresce em ritmo acelerado: estima-se que os sites de apostas movimentem nada menos do que R$ 4 bilhões por ano no Brasil.

Na prática, trata-se de um fenômeno mundial. As receitas da Fifa com a Copa do Mundo de 2018 foram inferiores a 6 bilhões de euros, somando direitos de TV, patrocínios, licenciamento e bilheterias, entre outros. Já o volume global de apostas online relacionadas com o Mundial chegou a nada menos que 136 bilhões de euros. “Isso sem contar que dentre as dez maiores economias do mundo, Estados Unidos, onde se imagina que apostas ilegais cheguem a mais de US$ 200 bilhões por ano, China, Japão e Brasil ainda não têm regulamentação adequada para o setor”, observa o advogado e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Pedro Trengrouse, que é membro da International Association of Gaming Advisors (Iaga).

Para o analista, o crescimento do universo das apostas está alinhado à expansão digital. “Apostas, principalmente online e em tempo real, mudam completamente a experiência dos torcedores”, diz. Segundo o gerente no Brasil da empresa KTO, o santa-cruzense Cássio Filter, a maioria das apostas são de valores baixos – R$ 50,00 a R$ 200,00 –, o que indica que a maior parte dos usuários está em busca de diversão, sem maiores riscos. “As pessoas gostam de apostar. Não é à toa que temos Mega Sena, Tele Sena, TriLegal e tantos outros”, defende.

Por causa da falta de legislação, as empresas que mantêm portais como Bet365, Sportingbet, NetBet e KTO não têm sede no Brasil e sequer pagam impostos no País, embora sejam cada vez mais frequentadas por brasileiros e até patrocinem clubes de futebol nacionais. Os defensores da liberação alegam que, além de gerar arrecadação para o poder público e movimentar a economia, isso vai permitir um controle maior sobre o setor e coibir tanto a dependência de usuários quanto a atuação de empresas suspeitas.

“O Brasil hoje está completamente exposto”
Para Pedro Trengrouse, a preservação da integridade do esporte e dos torcedores e a proteção da economia popular devem ser as prioridades da futura regulamentação. Na prática, isso significa mecanismos para coibir empresas que não tenham capacidade para honrar seus compromissos com os apostadores e evitar a manipulação de resultados esportivos.

Conforme ele, a falta de uma regulamentação vem causando prejuízos a muitas pessoas. Em 2005, por exemplo, uma investigação da Polícia Federal levou à anulação de 11 partidas do Campeonato Brasileiro no episódio que ficou conhecido como Máfia do Apito. Em 2017, milhares de apostadores ficaram sem receber prêmios porque bancas não honraram apostas nos resultados da 13ª rodada da Série A, quando times visitantes ganharam a maioria dos jogos, elevando significativamente a premiação. “O Brasil hoje está completamente exposto. Só com a regulamentação das apostas será possível preservar a integridade do esporte e proteger a economia popular”, observa Trengrouse.

Para o analista, porém, a política de tributação pesada, que é defendida por alguns setores como forma de evitar o estímulo ao jogo, não é o melhor caminho, já que pode ter o efeito adverso ao que se busca e afugentar as empresas. “As melhores práticas internacionais não apontam nessa direção, pelo contrário. O jogo legal é a melhor ferramenta de combate ao jogo ilegal, e uma taxação abusiva não contribui em nada para o mercado.”

Atualmente, sites com licenças em mercados maduros, como Inglaterra, França, Espanha e Portugal, oferecem mais segurança quanto ao pagamento dos prêmios. Conforme Trengrouse, porém, a falta da regulamentação também expõe tanto as empresas quanto os apostadores a riscos: o artigo 50 da Lei de Contravenções Penais define apostas esportivas de qualquer natureza como jogo de azar, estabelecendo pena de prisão e multa de até R$ 200 mil inclusive para o apostador, ainda que pela internet ou qualquer outro meio de comunicação. “Enquanto não houver a devida regulamentação, os riscos são grandes”, conclui.

COMO FUNCIONA
Para apostar, o usuário precisa se cadastrar na plataforma. Esse cadastro geralmente é gratuito, e não há cobrança de taxa sobre cada palpite. A receita das empresas advém apenas do fluxo das apostas.

A lista de possibilidades de aposta é imensa. As modalidades vão de futebol a críquete, passando por basquete, tênis, MMA, fórmula 1 e até esportes menos populares no Brasil, como hóquei e beisebol. Em algumas plataformas, também é possível apostar em outros segmentos que não o esporte – como os filmes que vão ganhar o Oscar ou o candidato que vencerá a eleição presidencial dos Estados Unidos.

Embora as empresas sejam internacionais, o rol de competições inclui até eventos regionais de menor porte. Atualmente, é possível apostar na Copa São Paulo Sub-20 e no Campeonato Potiguar, por exemplo.

As apostas não se restringem ao placar final de uma partida ou corrida. No futebol, pode-se apostar no total de gols, no resultado do primeiro tempo, no número de escanteios e em qual será a primeira e a última equipe a marcar, entre vários outros. Além disso, é possível apostar “ao vivo” – ou seja, enquanto a partida acontece.

Ao fazer o cadastro, o usuário credita o valor do qual deseja dispor para jogar. Há um valor mínimo para cada aposta – que, em alguns serviços, é de apenas R$ 1,00.

Cada possibilidade de aposta possui uma cotação, chamada “odd”, que é definida pela probabilidade e indica quanto o apostador vai ganhar. Por exemplo: se o usuário colocar R$ 50,00 em uma aposta cuja odd é 1,50 e acertar, ele receberá R$ 75,00. Já se a odd for 2,00, ele receberá R$ 100,00.

Essa probabilidade é fixada pela própria plataforma, com base em estatísticas pregressas. Quanto menor for a odd, maior é a chance de a aposta ser certeira. Exemplo: se um clube é favorito para vencer determinada partida, sua odd vai ser menor que a do outro.

Também é possível realizar apostas acumuladas: o usuário faz várias apostas ao mesmo tempo e a odd final é a multiplicação da odd de cada uma. Assim, se fizer cinco apostas de odd 2,0, a odd final será 10,0. Para ganhar, porém, é preciso acertar todas.

As apostas são individuais, ou seja, a disputa é sempre entre o usuário e a banca. Não há sistema de “bolão”, em que um valor é rateado entre todos os apostadores que acertaram.

Quando deseja retirar o valor que possui em seu saldo, o usuário solicita o saque à plataforma. A transferência pode levar de um a quatro dias, dependendo das regras adotada pela empresa.

“Aposto só para me divertir”
Para Vitor Macedo Silva, apostar não é uma fonte de renda, mas uma forma de lazer. Começou há dois anos, quando descobriu o site Betfair. À época, porém, a brincadeira durou apenas três meses e ele abandonou. Retornou no ano passado, desta vez no KTO.

Desde então, o programador de 22 anos aposta praticamente todas as semanas. De perfil que ele define como moderado, joga valores baixos, apenas em futebol e em clubes que conhece, sobretudo em campeonatos nos quais jogam times brasileiros (Brasileirão, Copa do Brasil, Libertadores), além da Champions League. Seu método para não ter problemas é o seguinte: a cada rodada, faz uma aposta de maior risco e outras mais seguras. Também dá preferência para as apostas de resultado, embora avalie como são as “odds” das demais possibilidades.

Silva conta que tomou gosto pelas apostas quando percebeu que elas davam mais emoção aos jogos, inclusive os que não possuem tanta importância nos torneios. “É só para me divertir. O que vier é lucro. Coloquei uma grana e já consegui tirar o que coloquei, então estou mais na diversão mesmo, sem risco de perda significativa”, relata.

Uma das experiências mais emocionantes foi na final da Copa Libertadores do ano passado. Silva havia feito uma aposta mais alta do que as suas regulares em favor do Flamengo, que perdia o jogo para o River Plate até os 44 minutos do segundo tempo. Com a virada histórica, ele saiu no lucro. Como prefere não se arriscar tanto, o máximo que conseguiu ganhar em uma única aposta foi cerca de R$ 150,00.

Silva relata ainda que já recebeu alertas para tomar cuidado nos jogos. “A família diz para cuidar para não viciar e perder muito dinheiro com isso. Mas, no geral, é bem tranquilo”, conta.

ENTREVISTA
Danrlei (PSD)
Deputado federal

Gazeta do Sul – Por que a regulamentação das apostas online é tão importante?
Danrlei – O jogo no Brasil não parou por causa da proibição. Muitas pessoas jogam, sim. Vejo que, se tivermos controle sobre isso, se tivermos números exatos, melhor. Hoje, inclusive, muitas pessoas jogam sem segurança, em serviços clandestinos. Nos Estados Unidos, por exemplo, os números são passados diariamente para uma agência reguladora.

A regulamentação vai sair em 2020?
Estamos trabalhando para que isso aconteça o mais rápido possível. Mas é importante dizer que, como a subcomissão é vinculada à Comissão do Esporte, meu relatório nesse momento vai levar em consideração muito mais o que essa regulamentação pode trazer de benefício para o esporte. E já percebemos que vai: muitos sites de fora do País estão patrocinando clubes brasileiros. Mas precisamos de uma regulamentação bem clara e segura, sobretudo para que os sites sérios de apostas venham trabalhar no País. Se sentirem mais segurança jurídica em outros países, eles não virão para cá. E aí o dinheiro dos apostadores brasileiros, que já são muitos, continuará indo para fora, o governo não vai arrecadar nada e não teremos controle nenhum sobre os apostadores.

Controle sobre os apostadores em que sentido?
É preciso saber se as pessoas que gostam de apostar não estão passando do limite e se isso não está começando a se tornar um vício. Mas ainda existe uma discussão muito grande sobre qual a melhor forma de regulamentação. A Caixa Econômica Federal tem uma ideia, o Ministério da Economia tem outra, os grandes sites de aposta têm outra, então estamos ouvindo todos e tentando chegar a uma formatação que ofereça segurança jurídica aos sites sérios. Ao mesmo tempo, precisamos de uma agência reguladora que fiscalize, junto com o governo e a Caixa Federal, para que as pessoas não fiquem viciadas. E se ficarem, que elas tenham o tratamento. Nos países onde essas empresas operam, há um controle. Eles conseguem ver quando o apostador está indo para o caminho do vício e aí comunicam os governos. Claro que existe o vício e que tudo o que é demais, faz mal. Por isso que estamos buscando a melhor regulamentação possível para o País.

A fiscalização parece ser o ponto mais importante do debate.
Essa é a grande discussão. É preciso uma fiscalização tanto para que as pessoas não caiam no vício quanto para que não se burle a lei. Já aconteceu em outros países de pessoas tentarem manipular jogos para ganhar apostas. Então, é necessário fiscalizar para que o apostador tenha segurança no que está jogando.

Ainda existe muita pressão contrária às apostas de setores conservadores, como a bancada evangélica?
Isso existe e vai sempre existir, embora a pressão maior seja sobre cassinos e bingos, até porque esses lugares tiram pessoas das igrejas. Mas no que toca às apostas online, a lei já existe. A discussão sobre autorizar ou não as apostas já passou. O que estamos tratando agora é sobre a regulamentação.

Danrlei (à esquerda) diz que é preciso uma fiscalização tanto para que as pessoas não caiam no vício quanto para que não se burle a lei

Se engana quem acredita que a diversão dos cassinos online é voltada apenas para os mais velhos. Prova disto, é que, durante a pandemia, a procura por essa categoria de jogos cresceu muito na Twitch, plataforma de streaming voltada para a transmissão de conteúdo ao vivo, muito famosa no universo do e-sports.

A plataforma conta com diversos famosos que fazem transmissões ao vivo, como o jogador Neymar, as cantoras brasileiras Anitta e Pitty, os rappers americanos Snoop Dogg e Soulja Boy, dentre muitos outros.

Entre os streamers brasileiros, cresce o número dos que realizam transmissões de jogos de cassino online e também de apostas esportivas, com destaque para o SkipNhO, que gosta de disputar partidas de pôquer online, e também do Cidcidoso, criado pelo extinto blog Não Salvo, que uma vez por semana realiza uma live jogando e apostando em um site parceiro.

Além desta influência, os cassinos e, principalmente, os sites de apostas estão investindo cada vez mais em suas estratégias de marketing voltadas para o público Brasileiro. São diversos patrocínios com clubes, campeonatos e redes transmissoras de futebol, além ações e parcerias com influenciadores.

Entre os cassinos online que adotaram essa estratégia de parceria, o destaque vai para o LeoVegas, que elegeu alguns embaixadores da marca no Brasil, como a influenciadora conhecida como a “musa das embaixadinhas”, Raquel Freestyle, e o ídolo histórico do Palmeiras, o ex-jogador Evair.

Outro serviço também passou a ser associado ao crescimento dos cassinos online e sites de apostas, os sites de análises, avaliação e recomendação, onde o LeoVegas também recebeu altas classificações da sua plataforma em português.

É importante salientar que a atividade de jogar em cassinos ou realizar apostas é totalmente legal quando ocorre de maneira online, isso porque seguem a regulamentação do Brasil e as plataformas são devidamente auditadas e legalizadas nos locais onde estão instaladas fisicamente.

Quem realiza jogos ou apostas online e consegue obter lucros de maneira regular, também tem que declarar os valores no Imposto de Renda, assim como ocorre em qualquer setor de investimento.

O crescimento destes sites já era algo notório antes mesmo da pandemia do novo coronavírus (COVID-19), no entanto, com o distanciamento social, estabelecimentos fechados e aumento do modelo de trabalho home office, este movimento foi potencializado.

Uma nova profissão foi criada com base nestas plataformas, o trader esportivo, que analisa as possibilidades em uma partida de alguma modalidade, desenvolve um método com uma base matemática, e passa a investir nos jogos com o objetivo de obter lucro.

A modalidade se assemelha muito a um investimento realizado no mercado financeiro onde ocorre a compra e venda de ações no mesmo dia, conhecida como day trade.

No entanto, quem ainda é iniciante nos jogos online deve tomar os cuidados, procurar por alguns tutoriais, conferir a recomendação e avaliação de sites especializados, procurar pelos melhores descontos e promoções, e começar a observar a divulgação dos influenciadores.



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07-06-2021
Dicas para apostar em jogos de futebol
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